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Avança a caracterização da biodiversidade da área do HIDS

439 espécies de vertebrados terrestres, sendo 28 anfíbios, 47 répteis, 279 aves e 85 mamíferos. Esse é o resultado de um levantamento da fauna que ocorre no território do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), conduzido pelo professor do Instituto de Biologia, Wesley Silva que também coordenou a equipe da componente “Patrimônio”, do HIDS, responsável por diagnosticar seu patrimônio ambiental e cultural e propor formas de preservá-lo e integrá-lo à vida funcional do HIDS. “O conhecimento da fauna local deve ser usado para realizar intervenções adequadas e propor não apenas medidas mitigadoras, mas ações que, em longo prazo, contribuam não só para a conservação das populações animais existentes, mas seu equilíbrio ao longo do tempo”, pontuou Silva.

Baseado em dados publicados históricos e recentes, o levantamento resultou em uma lista faunística com informações sobre o grupo (anfíbios, répteis, aves e mamíferos), ordem, família, nome científico, nome vernacular e status de conservação: criticamente em perigo (CR); em perigo (EM); vulnerável (VU); quase ameaçada (NT); pouco preocupante (LC) e dados insuficientes (DD). De acordo com o levantamento, a maioria das espécies não está ameaçada, considerando as escalas global, nacional e estadual. Quase todos os anfíbios são “pouco preocupantes” e somente uma espécie de réptil se encontra ameaçada, o lagarto Cercosaura ocellata (“vulnerável” no estado de São Paulo).

Nove espécies de aves estão classificadas como “quase ameaçadas”, entre elas o papagaio-verdadeiro Amazona aestiva e a araponga Procnias nudicollis. Conforme detalha Silva, o papagaio-verdadeiro tem sido domesticado desde a época colonial por conta da sua grande capacidade de imitar a voz humana. “A procura pela ave provocou declínio populacional em quase todo Brasil. Felizmente, uma população reduzida tem se mantido na região de Campinas nos últimos 30 anos, frequentando áreas abertas e mesmo urbanizadas, desde que arborizadas, como o campus da Unicamp”, explicou. Já a presença da araponga é bem mais rara. “Se ela ainda estiver presente na região, deve frequentar o maior remanescente florestal da região, a Mata de Santa Genebra”.

No grupo dos mamíferos, os carnívoros têm o maior número de espécies ameaçadas na região do HIDS. Um exemplo é o lobo-guará, que por conta da expansão da fronteira agrícola e de processos de urbanização, tem expandido sua ocorrência em várias regiões do Brasil e acaba ficando exposto a atropelamentos e encontros inusitados, inclusive no campus da Unicamp.

Há registros de lobo-guará no campus da Unicamp e na Fazenda Argentina. Animal é uma das espécies que sofre impacto da urbanização e da fronteira agrícola / Crédito: Wikipedia

Silva destaca, no entanto, que espécies com hábitos associados a habitats florestais, como o bugio-ruivo e o tangará, podem vir a ocorrer no HIDS caso as condições de preservação e restauração dos remanescentes florestais sejam implementadas.

Esse é o objetivo do projeto corredores ecológicos da Unicamp que vão conectar as áreas de preservação e polígonos de compensação do campus Zeferino Vaz e Fazenda Argentina entre si e entre os fragmentos de vegetação da área externa à universidade. Estão previstos a construção de passadores de fauna e o plantio e manutenção de vegetação nos corredores ecológicos, bem como seu cercamento e sinalização.

Serviços ecossistêmicos – A fauna nativa do HIDS também está associada a alguns serviços ecossistêmicos como a polinização, dispersão de sementes, controle de pragas e necrofagia (hábito de alimentar-se de corpos em decomposição). “A fauna de vertebrados da região do HIDS é rica em aves e mamíferos dispersores, que, por meio desse processo natural, contribuem para o ciclo reprodutivo das plantas, promovendo a manutenção da biodiversidade nos ecossistemas onde atuam”, afirmou Silva. Segundo ele, as 13 espécies de beija-flores com ocorrência potencial no HIDS colaboram na polinização. Das 24 espécies de morcegos, pelo menos 11 podem incluir néctar em sua dieta, tornando-se assim potenciais polinizadores, como o morcego-beija-flor.

Entre os mamíferos, o mais atuante é o cachorro-do-mato. De hábitos noturnos, ele se alimenta de roedores e insetos, mas é comum a presença de sementes de frutos nas fezes que ele deposita ao longo das trilhas e estradas que percorre. “Imagens e vestígios do cachorro-do-mato têm sido obtidos com frequência no campus da Unicamp e na Fazenda Argentina”, contou Silva.

Monitoramento – A lista de espécies que ocorrem no HIDS é fundamental para gerar e nortear projetos de intervenção na área, mas, segundo Silva, é importante ir além. Um próximo passo seria criar um sistema de monitoramento. “Precisamos confirmar no campo quais as espécies que de fato ocorrem no HIDS, quais são seus requisitos ecológicos, os serviços ecossistêmicos em que estão envolvidas e suas respostas populacionais e comportamentos às modificações do ambiente”, disse. Essas informações, que podem ser obtidas por meio de diversas tecnologias já disponíveis, vão ajudar na gestão da biodiversidade do HIDS.

Discussões para implementar um projeto dessa natureza já foram iniciadas no Conselho do HIDS, envolvendo atores como a Unicamp, Embrapa, CPQD e Instituto Eldorado. Na opinião de Silva, além da gestão da biodiversidade, as informações geradas por um sistema de monitoramento podem ser tratadas e veiculadas em programas de educação ambiental, colaborando para incentivar um tipo de relação saudável e instrutiva e uma coexistência responsável com a biodiversidade. “Nossa expectativa é criar oportunidades para que os usuários e vizinhos do HIDS desenvolvam atitudes de valorização e apreciação da fauna silvestre. Acreditamos que o conhecimento e a construção de processos salutares de coexistência com a fauna nativa podem contribuir para a formação de cidadãos responsáveis na era da sustentabilidade. Esse seria um exemplo tangível do papel inovador do HIDS”, finaliza.