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Porto Digital: aprendendo com boas experiências

Foram R$ 2 bilhões em faturamento em 2021, número que faz do Porto Digital é o segundo maior contribuinte de ISS do Estado de Pernambuco. Mas a história desse que é um dos mais bem-sucedidos ecossistemas de inovação do Brasil, começou tímida, em uma sala na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a partir da iniciativa de um grupo de professores inconformados com a fuga de cérebros formados no Centro de Informática da Universidade. “Nos anos 1990, os cursos de tecnologia da UFPE entregavam excelente mão-de-obra no mercado que não era absorvida”, contou Francisco Saboya, ex-diretor do Porto Digital. Ele contou esta e outras histórias em um encontro organizado pela Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI) e pela Associação Internacional de parques científicos, centros de inovação, áreas de inovação (IASP) para a equipe do HIDS. O objetivo é conhecer modelos de gestão e de governança de parques tecnológicos e áreas de inovação já consolidados para ajudar a desenhar o futuro do HIDS, em Campinas. “São 20 anos atraindo empresas e negócios, algo que pode ser repetido no HIDS”, disse José Piquet, da IASP. Piquet é um dos idealizadores do Distrito de inovação @22, em Barcelona, Espanha.

Na virada dó século 21, surgiu a necessidade de criar uma nova agenda para a economia do Estado de Pernambuco. Assim, empresários, membros da academia e representantes do setor público decidiram levar ao governo estadual a ideia de criar uma política pública para o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) que interligasse atores, empresas e organizações que até então agiam de forma independente e isolada. Criado no ano 2000, o Porto Digital surgiu com o objetivo de ser uma política pública para o desenvolvimento do setor de tecnologia da informação em Pernambuco. A ideia do grupo era aproveitar uma região atrativa para a inovação e estimular mudanças econômicas e sociais para gerar mais riqueza, emprego e renda no Estado.

Dois projetos em um – O governo estadual investiu R$ 33 milhões para consolidar a infraestrutura do Parque. Empresas de telecomunicações investiram R$ 1 milhão em infraestrutura e empresas privadas fizeram investimento de R$ 10 milhões. O Porto nasceu como uma Organização Social (OS), com o Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), para administrar o parque tecnológico e trazer investimentos e negócios até a região. “A atração de negócios de grandes empresas como a Embraer, Motorola e Samsung deu o pontapé inicial para consolidação do Parque e atração de investimentos do governo do Estado”, contou Saboya. Além disso, segundo ele, foi fundamental a escolha do local, zona portuária de Recife, então degradada. “O compromisso com a revitalização da área favoreceu o engajamento da sociedade civil e, consequentemente, dos governos na esfera estadual e municipal. Havia uma percepção de valor clara por parte da sociedade em relação ao projeto”, disse. Com o tempo, a região do Porto passou a ser um ponto de atração na cidade, tanto pelas oportunidades de trabalho, quando pela vida cultural que passou a existir. A lição que pode servir para o HIDS é que a escolha do local é estratégica para a consolidação de um ambiente de inovação.

A governança por meio de uma OS também garantiu autonomia para o Porto Digital. “Desde o início buscamos o máximo de independência do governo do Estado por meio da diversificação das fontes de financiamento”, contou Saboya. Ele mencionou um esforço para buscar recursos por meio de emendas parlamentares, em agências de fomento no Brasil (como a Finep) e no exterior, e em bancos, como o BNDES. Em seu início, o Porto Digital também contou com benefícios fiscais incluindo a redução do ISS e de IPTU. Houve a criação de um fundo de capital utilizado para qualificação de recursos humanos de empresas que se instalassem na área.

Finalmente, Saboya reiterou a importância de encontrar o que ele chamou de lideranças patrocinadoras e transformadoras. “É importante ter pessoas decisivas, capazes de ter boas ideias e de levá-las adiante por meio de alianças. Nós tivemos isso no Porto Digital”, finalizou.

Por Patricia Mariuzzo