
23 set Urbanismo para inovação e sustentabilidade
Ceuci é o nome da deusa tupi-guarani protetora das lavouras e das moradias. É também o nome do Centro de Estudos sobre o Urbanismo para o Conhecimento e a Inovação, um dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD-SP) cujo lançamento aconteceu na última quarta-feira (21) no auditório da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) da Unicamp. O nome do novo centro faz referência a um dos desafios do planejamento urbano para as áreas de conhecimento existentes e as que devem surgir nos próximos anos: tornar esses ambientes mais diversos e conectados com a cidade, combinando universidades, laboratórios de pesquisa, empresas e startups com moradias, parques e áreas com agricultura urbana e agrofloresta.
No atual cenário de mudanças climáticas, de destruição de ecossistemas e de crise econômica e social, essas transformações devem enfrentar uma série de desafios, exigindo novos métodos e ferramentas de planejamento urbano. Assim, a missão do Ceuci é contribuir para a implantação de áreas urbanas do conhecimento e inovação, em particular aquelas situadas em zonas de franjas ou de expansão urbana, tendo como diretrizes os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Uma das motivações para a criação do novo centro foram os estudos para elaboração de propostas urbanas inicialmente para a Fazenda Argentina e, em 2020, para o Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, o HIDS que inclui a área de todo o Polo de Desenvolvimento Tecnológico de Campinas (Ciatec 2). Para aprofundar esses estudos, a FECFAU criou a sua primeira especialização em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil. “Criamos uma série de disciplinas aqui na FECFAU para pensar a ocupação da Fazenda Argentina e depois do HIDS. Em plena pandemia, conseguimos implementar uma especialização que teve resultados excelentes. Tudo isso está intimamente ligado ao Ceuci”, lembrou Emilia Wanda Rutkowski, professora da FECFAU e coordenadora de comunicação do centro.
O Centro abre caminho para continuar esses estudos e ampliá-los, tendo o HIDS como um dos estudos de caso. “Esperamos compilar uma série de experiências e oferecer propostas para o desenvolvimento urbano das cidades do Estado de São Paulo”, disse Gabriela Celani, que será diretora do Centro.

Um Angico Vermelho foi plantado na FECFAU no dia 21 de setembro de 2022, Dia da Árvore, como marco da inauguração do CEUCI (Foto: Antonio Scarpinetti/SEC Unicamp)
Cidades do conhecimento
Entre os conceitos que guiarão as pesquisas, está o Knowledge-based urban development, um novo paradigma de desenvolvimento urbano que visa a trazer prosperidade econômica, sustentabilidade ambiental, uma ordem socioespacial justa e boa governança para as cidades, incentivando a produção e a circulação do conhecimento. Conforme explicou Celani, os estudos também irão envolver uma série de oficinas e os chamados laboratórios urbanos (Urban Living Labs) que possibilitam a criação de espaços de co-criação ou de inovação aberta, nos quais todos os interessados testam, desenvolvem e criam soluções em conjunto para as cidades.
Assim como os demais CCDs, o Ceuci vai funcionar por meio da colaboração entre a Unicamp, empresas, organizações não governamentais e o governo. Na Unicamp, a unidade sede do Ceuci é a FECFAU, mas também participam como instituições de pesquisa a Faculdade de Tecnologia da Unicamp (FT) e a Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA), ambas em Limeira. A professora do curso de Administração Pública da FCA e também coordenadora de parcerias do Ceuci, Milena Serafim, lembrou a importância de ir além dos diagnósticos quando se trata de formular políticas públicas. “Trabalhar em conjunto com arquitetos e urbanistas vai nos ajudar a considerar também as modelagens de cenários futuros para melhorar a gestão pública”, disse. “Precisamos dar um salto de qualidade para criar um ambiente saudável nas cidades”, complementou.
O CPQD é a principal instituição externa associada ao projeto. Seu diretor de inovação, Paulo José Pereira Curado, destacou a importância de trabalhar em conjunto com a universidade. “No CPQD, nos identificamos com o propósito do Ceuci, que é buscar soluções para desafios contemporâneos e materializá-las na forma de desenvolvimento econômico, social e em qualidade de vida para as pessoas”, disse ele, que é vice-diretor do Centro.
A Prefeitura Municipal de Campinas (PMC), a Agência de Inovação da Unicamp (Inova), a Embrapa, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (SDE) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também são instituições parceiras. “Na Embrapa temos um arcabouço de tecnologias de modelagem e monitoramento baseados em dados que devem ajudar nos estudos planejados no Ceuci”, contou Stanley Oliveira, chefe geral da Embrapa Agricultura Digital. Já a diretora da Inova Unicamp, Ana Fratini, destacou a experiência da Agência na gestão de parques tecnológicos e em propriedade intelectual que pode contribuir para as soluções de planejamento urbano para ambientes de inovação.

Mesa de abertura no lançamento do Ceuci que contou com a presença do reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles
As empresas participantes são a Flock Circular, a Ecclo Saneamento e Paisagismo Ecológico, a Suzano e o Instituto Ecofuturo, a Cariba Empreendimentos e Participações e a Rewood Soluções Estruturais em Madeira. A ONG Instituto 17, que atua em projetos de difusão dos objetivos de desenvolvimento sustentável e no desenvolvimento de soluções de economia circular, defesa do meio ambiente e desenvolvimento local, também irá colaborar com o Centro. Para o reitor da Unicamp, Antonio Meirelles, a principal virtude de projetos como esse é serem multi-institucionais. “Nesse modelo, ampliamos o diálogo com a sociedade e a possibilidade de gerar impactos sociais e econômicos”, disse. A coordenadora geral da Universidade, Maria Luiza Moretti, lembrou que projetos de longo prazo como o Ceuci exigem grande comprometimento institucional, mas também promovem crescimento de toda a comunidade acadêmica. O coordenador do HIDS na Unicamp, Mariano Laplane, falou sobre a complexidade do projeto. “O sucesso do HIDS depende de uma enorme mobilização de atores, dentro e fora da Universidade, do poder público e do envolvimento da cidade que, de certa forma, tem que abraçar o projeto, reconhecendo nele valor econômico e social. O Ceuci vai ajudar a encontrar esses caminhos”, afirmou.