
13 maio 21 soluções sustentáveis
Construir prédios mais baixos e próximos uns dos outros, possibilitando agregar áreas verdes e que mais edificações tenham acesso às vistas do entorno, incluindo elementos naturais da paisagem como rios, montanhas e áreas de mata, por exemplo. Essa é uma das orientações adotadas no plano de HafenCity, em Hamburgo, Alemanha, para se obter uma cidade mais compacta, sem verticalização excessiva e mais sustentável. Foi para buscar exemplos como esse que a equipe da componente do projeto físico-espacial do HIDS elaborou um Benchmarking com soluções que podem ser aplicadas no projeto urbano do Hub. O estudo elenca 21 soluções extraídas de 27 projetos de renovação urbana, hubs de inovação, parques tecnológicos e campi universitários em todo o mundo. Elas estão agrupadas em cinco temas: 1) paisagem, 2) morfologia, 3) gestão hídrica, 4) mobilidade urbana e 5) energia e infraestrutura.
Coordenada pela professora Gabriela Celani, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC Unicamp), esta equipe é formada por docentes da Unicamp (FEC e IFCH), alunos do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da FEC, docentes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas, colaboradores da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado da Unicamp (DEPI) e ainda pelos alunos da primeira turma da Especialização em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil da FEC, criada especialmente para trabalhar no planejamento do HIDS.
No tema paisagem, os pesquisadores buscaram exemplos de projetos e intervenções que apresentassem uma boa integração com seu entorno e com a cidade como um todo e soluções baseadas na natureza (SBN). No plano urbano do Campus de Virginia Tech, por exemplo, as edificações forma implantadas nas regiões mais altas e planas. Já as regiões mais baixas ou com maior fragilidade ambiental destinam-se às áreas verdes e aos espaços livres. No Brasil, o projeto do Sapiens Parque, em Florianópolis, inclui uma zona de preservação total no entorno do rio Papaquara, uma área de ocupação intermediária onde existe a possibilidade de alagamentos, e uma área de ocupação mais intensa na região mais próxima ao núcleo urbano existente, onde serão instalados os edifícios do parque de inovação. “O território do HIDS possui questões topográficas e ambientais parecidas com os casos do campus de Virginia Tech e do Sapiens Parque; portanto, pensar em um gradiente de ocupação pode contribuir para uma ocupação que respeite e preserve o ambiente natural e as ocupações existentes”, aponta o relatório.
Caminhabilidade e integração – Outro exemplo de solução sustentável que pode ser aplicada no HIDS é um tipo de desenho urbano que contribua para o maior conforto do pedestre ao caminhar. Na estratégia de caminhabilidade de Kendall Square, bairro em Cambridge, Massachusetts, ao lado do MIT, buscou-se liberar o pavimento térreo dos edifícios para garantir a continuidade e integração entre espaços internos e externos, considerando-se dois fatores fundamentais: a relação com o Rio Charles e a promoção de espaços abertos. Assim, os acessos e os percursos a pé entre os edifícios foram multiplicados, resultando na diminuição dos trajetos a serem percorridos por pedestres e o aumento da mobilidade ativa. “Associar espaços públicos flexíveis às fachadas ativas pode ser uma solução para se criar, no território do HIDS, espaços públicos seguros que estimulem as pessoas a utilizá-los e a ocuparem as ruas”, apontam os pesquisadores.
Não apenas as áreas de pedestres devem ser agradáveis, mas também as ruas devem estimular a convivência das pessoas. O conceito de ruas completas, aquelas que atendem em segurança e comodidade a todas as faixas etárias e a usuários de todos os tipos de transporte, aparece em 20% dos 27 projetos analisados no estudo. Piso tátil, redução de cruzamentos, pouca declividade, semáforos com contagem regressiva e sinais sonoros são alguns exemplos desse cuidado no planejamento para uma cidade democrática e universal.
Encontrar formas de estabelecer uma relação do HIDS com o distrito de Barão Geraldo e com Campinas também guiou a elaboração do Benchmarking. Os planos do Instituto Tecnológico de Monterrey, no México, e da Universidade de Lima, no Peru, preveem múltiplos acessos, fazendo a conexão entre a nova área urbanizada e suas vizinhanças. Nos limites de cada um, centros esportivos permitem a integração entre a comunidade e a universidade.

Plano de regeneração urbana Tecnológico de Monterrey
Grande parte dos casos analisados aponta a necessidade da diminuição do uso de automóveis. Entre as alternativas estão medidas como o direcionamento do tráfego a vias principais e a restrição de automóveis em áreas em que se pretende ter maior circulação de pessoas, por exemplo, com garagens subterrâneas. Estas soluções de planejamento territorial também levam em conta a mobilidade sustentável. Entre as ações encontradas nos planos consta, por exemplo, o subsídio financeiro a trabalhadores e estudantes para a utilização do transporte coletivo e o incentivo ao uso da bicicleta. A gestão inteligente de rotas e horários do transporte coletivo é outro ponto viável para adoção na realidade do HIDS.
Gerar sentimento de pertencimento a um lugar é fundamental para garantir a apropriação do espaço pelos seus usuários. Uma estratégia para desenvolver a identidade de um lugar é o city branding que inclui, por exemplo, criar uma identidade visual que proporcione uma experiência urbana. Na Universidade de Viena cada edifício é associado a uma praça. A forma e a função de cada um são relacionadas à estética e aos materiais do espaço livre, tornando-o mais interessante para seu público. Campinas, que busca consolidar uma identidade ligada à pesquisa e à inovação, pode se beneficiar do HIDS, como um elemento gerador dessa identidade.
Cidade e natureza – As áreas verdes também desempenham um papel fundamental para gerar bem-estar e qualidade no espaço urbano. Por isso implementar estratégias de infraestrutura verde-azul é fundamental no planejamento de um espaço sustentável. Na cidade de Konza, no Quênia, foram criados corredores ecológicos ao longo de cursos d’água. Além desses corredores, foram reservadas áreas verdes que servirão de habitat para a fauna e flora da região. No sentido de prover a comunidade, a agricultura urbana também é uma estratégia de preservação da biodiversidade local. Hortas comunitárias são previstas nos projetos da nova comunidade de Ananas, nas Filipinas, da nova comunidade de Praderas, no Chile, e do Tecnopolo Sophia Antipolis, na França.
A aproximação com a natureza também pode ser feita pela adoção de soluções baseadas na natureza para enfrentar os inúmeros desafios da vida urbana. Um exemplo que pode ser utilizado no HIDS é a utilização de biovaletas, uma cava com vegetação linear e de baixa inclinação que armazena, transporta e absorve o escoamento superficial de água. Essa solução de drenagem sustentável foi adotada no Centro de Pesquisa e Inovação da L’Oréal, no Rio de Janeiro. Lá, a água captada nas biovaletas é direcionada para uma lagoa de retenção, de onde pode ir para a recarga do lençol freático ou para o reuso. A instalação de sistemas de reaproveitamento de água – por exemplo, em descargas – pode ser incentivada por meio de um selo para os empresários e empreendedores que adotem medidas sustentáveis.
Educação para a sustentabilidade – Para que a adoção do planejamento urbano alinhado com o meio ambiente realmente ocorra, é fundamental a participação de empreendedores, proprietários, arquitetos, engenheiros e planejadores. Além disso, programas de educação, orientação e sensibilização das populações envolvidas também devem ser contemplados em projetos de urbanização.
No Tecnopolo Sophia Antipolis, por exemplo, há sinalização indicando pontos de inundação e que informam também a data da última ocorrência. “Essas placas são uma forma de conscientizar a população, além de constituírem uma memória dos acontecimentos passados e promover a consciência do risco”, atesta o relatório. Com a consciência de responsabilidade de cada um, é possível movimentar processos participativos que integram efetivamente os atores daquele espaço.
De acordo com o estudo, essa integração é perfeitamente factível no HIDS porque dispositivos como orçamento participativo, conselhos, debates públicos e audiências já estão previstos no Estatuto das Cidades (Lei Federal 10.257/2001). Assim, as soluções para os problemas colocados são constantemente alinhadas às potencialidades da comunidade.
Energia – Estratégias também aplicáveis ao HIDS são aquelas relativas à utilização de fontes de energia renováveis e de sensibilização para o uso mais racional da energia. Dentre os casos analisados pela equipe da componente do projeto físico-espacial as principais fontes de energia citadas são a energia solar, eólica, geotérmica, de biomassa e de biogás.
A energia solar é opção adotada em inúmeros projetos. Por ser renovável e não poluente, “a produção de eletricidade via sistema fotovoltaico é altamente aplicável no contexto HIDS, pois o Brasil é um país que possui alta uniformidade de irradiação solar no território nacional o ano inteiro e isso também ocorre no município de Campinas”, indica o estudo. O projeto Campus Sustentável já em andamento na Unicamp e que implementou placas fotovoltaicas em alguns edifícios do campus em Barão Geraldo, pode ser um bom ponto de partida para um projeto de energia sustentável no HIDS como um todo.
Uma boa alternativa de produção energética é a combustão de biomassa (qualquer material de origem orgânica) e a utilização de biogás (geração de metano a partir da decomposição de materiais orgânicos, tanto animais quanto vegetais ou outros resíduos de microrganismos). Para complementar seu sistema se fornecimento de energia, o Swiss Innovation Park, em Zurique, na Suíça, produz energia a partir de biomassa. A cidade de Surrey, no Canadá, usa biogás. A exemplo desses dois casos, o HIDS poderia contar com esse tipo de energia, que emite uma menor quantidade de gases de efeito estufa que a queima de petróleo ou carvão natural. O estudo destaca que os canaviais existentes na área do HIDS e o restaurante universitário da Unicamp são possíveis fornecedores de resíduos dessa natureza.
Metas de redução de emissão de CO2 também estão presentes em boa parte dos projetos analisados no Benchmarking. O plano para o campus da Universidade do Texas, por exemplo, inclui um plano de gestão energética que permite à universidade manter o consumo de combustível igual ao de 15 anos atrás, embora sua área construída tenha duplicado. Além disso, suas emissões de carbono atualmente são as mesmas de 1977.
O Benchmarking também traz exemplos de soluções na área de governança e gestão territorial, mobilidade ativa e transporte público, aplicação de recursos tecnológicos, gestão de estacionamentos, acessibilidade e monitoramento do trânsito. Ao final do estudo, uma tabela sintetiza os casos analisados.
Para acessar a versão completa do estudo, clique aqui.
Como um projeto complexo e ousado, que tem como princípio básico, a sustentabilidade, é fundamental que o planejamento do HIDS tenha referencias nacionais e internacionais em termos de soluções sustentáveis. Baseado em estudos sólidos, a expectativa é que o HIDS seja também, no futuro, um exemplo de distrito sustentável, configurando-se “como um projeto de inovação que poderá se estabelecer como uma referência em planejamento urbano sustentável”.
Por Mariana Garcia de Castro Alves e Patrícia Mariuzzo