25 jan Reitor da PUC-Campinas quer criar zona franca de conhecimento
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by hids
Inovação é estratégia para reconstituir a autoestima da cidade – Uma das propostas contidas no projeto do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), cujo planejamento físico e espacial está em curso, é estabelecer uma Zona Franca do Conhecimento em Campinas.
A intenção é desonerar as empresas inovadoras participantes e estimular o desenvolvimento tecnológico e financeiro da cidade e da região. A informação é do reitor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), uma das instituições que integram o HIDS, professor Germano Rigacci Júnior. De acordo com ele, o projeto, dada a sua envergadura, tem capacidade para recolocar Campinas na vanguarda brasileira da produção de conhecimento e de bens e processos inovadores, posição que a cidade já ocupou, mas que perdeu ao longo dos últimos anos.
O HIDS é uma iniciativa que nasceu da parceria inicial entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a PUC-Campinas. Com o tempo, porém, outras universidades e institutos de pesquisa, além de empresas e a Prefeitura de Campinas, passaram a integrar o projeto. “Nosso objetivo é somar competências de modo a gerar um ambiente propício a ações inovadoras que tenham compromisso com o desenvolvimento sustentável”, assinala Rigacci.
O reitor da PUC-Campinas faz questão de observar que o HIDS não é um projeto dos seus formuladores e parceiros, mas sim um potencial legado para Campinas, com reflexos positivos para a região e o país. “Pela sua importância, o HIDS tem capacidade para dotar Campinas de uma identidade inovadora; de transformá-la em referência para o Brasil e, quem sabe, para o mundo”, considera Rigacci. Na visão dele, várias condições para que esse objetivo seja alcançado já estão dadas.
O dirigente da PUC lembra que a cidade dispõe de universidades e institutos pesquisas, bem como de recursos humanos altamente qualificados, que produzem ciência de primeira linha. O parque ferramental também está entre os mais sofisticados do mundo. Destaque, por exemplo, para o Projeto Sírius, a nova fonte de luz síncrotron brasileira de quarta geração, considerado o estado da arte nesse segmento, que é como os pesquisadores qualificam tecnologias extremamente avançadas.
Dito de modo simplificado, a luz síncrotron é utilizada para desvendar a estrutura dos materiais. O objetivo é compreender como esta estrutura está arranjada para depois tentar manipulada de acordo com diferentes interesses. Por causa dessa capacidade, cientistas de todo o Brasil e de diversos países têm recorrido ao Sírius para desenvolver suas pesquisas. “Por tudo isso, entendo que o ambiente está preparado. Quando todos estivermos caminhando no mesmo rumo, tenho certeza que Campinas reassumirá o seu protagonismo”, analisa Rigacci.
Vale do Silício – E qual será a principal vocação do HIDS? O reitor da PUC-Campinas considera que a resposta a esta pergunta ainda não pode ser dada com precisão, dado que dependerá do consenso entre os parceiros e das oportunidades que se apresentarem no futuro. “Algumas pessoas consideram que podemos nos tornar o Vale do Silício no Brasil. Podemos, mas podemos também ser outra coisa. Podemos, inclusive, ser mais que isso. A escolha e o esforço de concretização dependerão somente da nossa vontade”, pondera.
Um aspecto, porém, parece claro para Rigacci. Assim que Campinas atingir o status desejado, os seus moradores passarão a enxergar a idade de outra maneira. “Penso que as pessoas voltarão a ter orgulho da sua história, da sua cultura e da sua capacidade de criação. Tudo isso vai ampliar a autoestima do campineiro. Obviamente, a definição desse cenário não dependerá somente pelo HIDS. Será preciso o envolvimento de outras empresas, organizações e forças políticas para que o objetivo se concretize”.
Um ponto fundamental, continua o reitor, é promover a retenção dos profissionais formados em Campinas. A PUC-Campinas, sustenta o professor, tem um projeto nesse sentido. “Nós formamos doutores altamente preparados, que migram para outros países em busca de melhores oportunidades de trabalho. Precisamos manter esses jovens na Região metropolitana de Campinas. Eles têm uma formação muito consistente e que é indispensável para impulsionar o processo de desenvolvimento regional”, avalia.
Questionado sobre como andam as relações com a Prefeitura e a Câmara de Vereadores de Campinas com vistas à aprovação de projetos que sejam essenciais à concretização do HIDS, Rigacci informa que elas são muito boas. “O prefeito Dario Saadi já manifestou interesse em discutir e contribuir para o avanço dessas questões. Com relação à Câmara, temos muitos vereadores igualmente interessados. Nunca identifiquei nos integrantes do Legislativo qualquer resistência ao projeto”.
Aceleração de startups – Até que o HIDS entre efetivamente em operação e produza resultados concretos, a PUC-Campinas segue comprometida em produzir conhecimento e em estimular o empreendedorismo. Um exemplo desse esforço, cita o reitor da instituição, é o espaço Mescla, inaugurado em fevereiro de 2020. O nome do projeto, conforme Rigacci, traduz o espírito do projeto. “Nosso propósito é promover uma mistura de competências e talentos voltados à aceleração e incubação de startups. Queremos estimular novos negócios, tendo como foco o desenvolvimento sustentável”, reforça.
Por causa da pandemia de Covid-19, o Mescla ainda não opera com capacidade máxima, mas mesmo assim tem mantido atividades importantes, como afirma o reitor. Em outubro, 26 grupos de estudantes foram admitidos no processo de aceleração. Posteriormente, participarão da etapa de incubação. Ao final do processo, a empresa estará preparada para o voo solo.
Rigacci salienta que o Mescla é aberto a quaisquer interessados, independentemente de vínculo com a universidade. A metodologia contempla três fases. Na primeira, o interessado precisa apresentar uma ideia, que posteriormente tem que ser validada por uma pesquisa realizada junto a 100 pessoas. “Se pelo menos 50% delas comprarem a ideia, então o proponente será admitido para participar da segunda fase, que consiste no processo de aceleração”, esclarece o reitor. A terceira e última etapa, como já dito, é a incubação. A estrutura do Mescla é formada por espaço de coworking, sala de reuniões e Laboratório de Fabricação Digital, onde são produzidos os protótipos dos projetos. O estímulo ao empreendedorismo é um dos focos da PUC-Campinas, mas não é o único, ressalva Rigacci. A universidade também está comprometida em impulsionar a inovação social. “Estamos abrindo espaço no Mescla para a participação de jovens das periferias, não necessariamente estudantes. Queremos que eles apresentem projetos que sejam importantes para melhorar o bairro ou a região onde eles vivem”, adianta. A estratégia para chegar até esse público, informa o reitor, é usar a Igreja, que tem representações [PARÓQUIAS] espalhadas por toda a cidade.
80 anos – Todos esses projetos e programas, segundo Rigacci, revestem-se de importância ainda maior porque estão sendo criados ou tendo continuidade no ano em que a PUC-Campinas completa 80 anos de fundação. Fundada em 7 de junho de 1941, a universidade teve como primeira unidade a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que ocupou o antigo casarão de Joaquim Polycarpo Aranha, o Barão de Itapura, localizado na esquina da Avenida Francisco Glicério com Rua Marechal Deodoro, no Centro da cidade.
Comprado pela Diocese de Campinas, o edifício, tombado pelos órgãos municipal e estadual de Defesa do Patrimônio Histórico e Arquitetônico, abrigou posteriormente diversos outros cursos, como o de Direito, Ciências Sociais, História e Geografia. Atualmente, a PUC-Campinas está situada entre as melhores universidades do Brasil, segundo o ranking formulado pela consultoria britânica Quacquarelli Symonds (QS). A QS avaliou as principais escolas superiores da América Latina. Na relação, divulgada em dezembro de 2020, a PUC aparece como a melhor universidade particular do Interior de São Paulo, a terceira melhor de São Paulo e a sétima melhor do Brasil.
PUC-Campinas refaz projeto de restauro do Solar do Barão – O projeto de revitalização do Solar do Barão de Itapura, localizado no Centro de Campinas, de propriedade da PUC-Campinas, está sendo atualizado e deve ser entregue até o início fevereiro. A proposta original, concluída em 2014, previa a construção de salas comerciais em um empreendimento comercial no entorno, a fim de subsidiar o restauro e manutenção do palacete, que é tombado pelos órgãos municipal e estadual de Proteção do Patrimônio Histórico e Arquitetônico.
A informação é do reitor da universidade, Germano Rigacci Júnior, que visitou o Grupo RAC na última quinta-feira. Ele foi recebido pelo presidente executivo do jornal, Ítalo Hamilton Barioni. Segundo Rigacci, a reformulação do projeto de revitalização é imprescindível porque, depois de mais de seis anos, o documento ficou desatualizado tanto em relação às estimativas de investimento quanto no que se refere ao modelo do empreendimento comercial.
Com a pandemia de Covid-19, conforme o reitor, tudo mudou. “Na época, fazia sentido construir salas comerciais. Hoje, com o crescimento do trabalho remoto, a realidade é outra”, justifica, acrescentando que os propósitos gerais do projeto continuam os mesmos. A reforma da Avenida Francisco Glicério, entende Rigacci, não foi suficiente para revitalizar o Centro.
“A restauração do solar e a construção de um empreendimento nas imediações impactarão positivamente a região, em um raio de quase 1 km, e isso será extremamente importante para a cidade”, considerou o reitor da PUC-Campinas. Os recursos necessários para reforma o palacete bem como o investimento necessário para a execução do empreendimento deverão vir de parcerias a serem firmadas com a iniciativa privada. O Solar do Barão, assinalou Rigacci, é um prédio que se mescla à trajetória da universidade. “É um símbolo de Campinas, na medida em que representa o auge da economia cafeeira no Século 19. Barão de Itapura era banqueiro e fazendeiro, e o imóvel denota esse homem de posse, de riqueza. Quando a Diocese o comprou, a universidade passou a utilizá-lo para formação de jovens, no âmbito de ensino superior”, relata. O local abrigou ao longo de décadas pelo menos 14 cursos. “O solar é um lócus acadêmico importante, que ainda tem um valor emocional para todos aqueles que lá estudaram”, acrescenta o reitor. Rigacci afirma que, apesar de desocupado, o imóvel continua recebendo manutenção. “Atualmente, contamos com quatro vigilantes, serviço de limpeza e demais cuidados. Entretanto, não há dúvida que o local precisa, sim, ser restaurado”.
Ensino remoto – O ensino remoto continuará sendo aplicado na retomada do ano letivo de 2021, de acordo com o reitor da PUC-Campinas. A decisão atende essencialmente às normas de segurança contra a Covid-9. Além disso, a universidade investiu em estrutura tecnológica, na ampliação de espaços virtuais e na circulação e transmissão de dados, condições fundamentais para que as atividades acadêmicas possam ser realizadas de forma online. “Os alunos entenderam que a dificuldade não era da universidade especificamente, mas do mundo, e puderam se adequar nesse processo de ensino-aprendizagem de modo diferente. Com isso, a qualidade se manteve. Felizmente, nosso corpo docente se capacitou em pouco tempo para atender a essa demanda. Foi fantástico o que a nossa comunidade fez para garantir que as atividades continuassem com relativa normalidade”, avalia.
<CW28>Em relação às disciplinas práticas, a PUC fez ajustes considerando a fase em que se encontrava o Estado de São Paulo. À medida que as disciplinas práticas puderam ser retomadas, a universidade o fez. Entretanto, os cursos ainda estão repondo parte da carga horária que ficou pendente. Em relação aos investimentos programados, a instituição também precisou se readequar.
“Estamos nos preparando para um momento pós-pandemia. Não estamos parados. Há muitos projetos estratégicos que continuaram sendo desenvolvidos. Os de pesquisa não pararam. Os espaços acadêmicos internos, que envolvem empreendedorismo, também estão disponíveis para a aceleração de startups, porque pesquisa requer inovação. A universidade não parou. Com todas as limitações que o momento coloca, a instituição continua a se desenvolver”, complementa.
Aniversário – A universidade completa 80 anos em 2021, com uma trajetória que se funde à de Campinas. Surgiu com o projeto de Dom Barreto, implementado pelo Monsenhor Salim, que inaugurou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em 1941. “A PUC nunca deixou de estar vinculada, primeiro, a um projeto da Igreja de Campinas. A universidade nasceu do coração da igreja. Não é um negócio privado. É uma universidade que nasce de uma missão evangelizadora”, pontua. Rigacci revela que a atual gestão está pensando a PUC para os próximos 80 anos. “Estamos fazendo isso de forma estratégica, pois somente assim poderemos nos preparar para o futuro. Nosso plano estratégico conta com quatro eixos estratégicos, entre eles o fomento das relações humano-afetivas”. A universidade, continua o reitor, tem que discutir, segundo seus valores, a questão das relações humanas. “Como eu construo essas relações dentro da universidade? Como eu aprendo a conviver dentro da dela? Não é simples. É um desafio”, reconhece.
Entre os projetos que estão sendo discutidos com vistas ao futuro, prossegue Rigacci, está também a internacionalização da universidade, principalmente nos âmbitos do ensino e da pesquisa. “Este é um desafio que precisamos enfrentar. Em um mundo cada vez mais globalizado e cooperativo, nossas atividades podem e devem romper fronteiras. Queremos dialogar com as mais importantes escolas de ensino superior do mundo”, finaliza o reitor da PUC-Campinas.
Por Raquel Valli, no
Correio Popular, em 25/01/2021. Nesse
link, é possível acessar a reportagem em PDF.