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Uma metodologia para avaliar sustentabilidade no HIDS

Criar uma metodologia para avaliar, de forma desagregada, todas as ações e atividades planejadas para o HIDS em termos de seus alinhamentos com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU, este foi o desafio da componente Avaliação de Sustentabilidade do projeto do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS). O trabalho da componente, que fez parte da Cooperação Técnica firmada entre o BID e a Unicamp em 2020, foi motivado pela necessidade de criar um mecanismo por meio do qual pudessem ser feitas recomendações, revisões de formato, perguntas avaliativas, indicadores e pesos, além de dimensões e critérios para as atividades implementadas na área do HIDS.
Multidisciplinar e coordenada pelo professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Cunha, a equipe contou com a participação de pesquisadores e colaboradores da Unicamp, Embrapa, PUC-Campinas, Facamp, Cargill, Instituto Eldorado, CPQD, CPFL e Sanasa. “O principal benefício de analisar propostas de atividades e projetos a serem desenvolvidos no HIDS é garantir uma melhor implementação. Podemos corrigir eventuais erros antes do efetivo início da atividade”, pontuou Cunha.

Com objetivo de ter uma visão ampla sobre os vários aspectos que se pretende avaliar, a metodologia estabelece sete dimensões de análise: Governança e Capacidade Institucional; Meio Ambiente e Mudança do Clima; Social e Direitos Humanos; Econômico-Financeira; Mobilidade e Acessibilidade; Ensino e Pesquisa e Integração com os ODS. Estas dimensões, por sua vez, compõem quatro módulos de avaliação que empregam metodologias já consolidadas em todo o mundo. São elas: Análise de Insumo-Produto (EIO-LCA), por meio da qual é possível avaliar, por exemplo, impactos socioeconômicos e ambientais de 67 atividades econômicas; Análise de Ciclo de Vida (ACV), que serve para avaliar impactos ambientais de um sistema construtivo; já módulo Institucional (GRI, Global Compact, ODS, ISE) possibilita definir o perfil de uma instituição e o ranking global de universidades GreenMetric, tem como objetivo analisar e monitorar indicadores de sustentabilidade nos campi universitários. A Unicamp e a PUC-Campinas já são avaliadas anualmente pelo ranking GreenMetric.

Piloto – Ao longo do desenvolvimento da metodologia foram selecionados alguns projetos para testar a efetividade do método de avaliação de sustentabilidade proposto para o HIDS. Um deles foi o AgNest Farm, iniciativa recente da Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Agricultura Digital para estimular a inovação aberta no setor agropecuário.

O AgNest fica localizado em uma fazenda de 60 ha em Jaguariúna, ao lado da Embrapa Meio Ambiente, a 15 minutos de Campinas/SP (Foto: Embrapa Meio Ambiente)

O AgNest se configura como um hub de inovação no formato de uma fazenda laboratório (farm lab) em que a interação entre startups e outros agentes (universidades, centros de pesquisa, empresas e governo). “O AgNest se mostrou um case viável para de testar a aplicação da metodologia proposta especialmente porque o contrato de cooperação entre as organizações parceiras e o AgNest Farm se configura no contexto de um laboratório vivo (living lab) agrícola”, explicou Jaqueline Nichi, consultora do BID, que colaborou no desenvolvimento da metodologia. Ainda segundo ela, o hub também propõe um alinhamento ao desenvolvimento sustentável e aos ODS ao investir no empreendedorismo sustentável no setor agropecuário.
Os testes com o AgNest foram importantes para validar uma metodologia abrangente e gratuita, na qual aspectos relacionados à diversidade e igualdade de oportunidades estão bem representados. Por outro lado, conforme explicou Nichi, faltam indicadores específicos para setores-chave como o agropecuário. “Também percebemos a necessidade de incorporar indicadores relacionados ao patrimônio imaterial desta região”, afirmou Cunha.

O trabalho da componente também foi importante para antecipar aspectos que poderão compor um modelo de governança para o HIDS por meio de uma série de recomendações. Na área de governança, por exemplo, o HIDS deveria adotar mecanismos internos e externos para orientar comportamentos éticos e em conformidade com a legislação, por exemplo, práticas de compra justas, mecanismos de combate à corrupção, e mecanismos justos de contratação de fornecedores. Em relação aos aspectos ambientais, o HIDS deveria criar mecanismos para mensurar impactos ambientais no ecossistema relacionados à operação das organizações instaladas no HIDS. Também seria importante promover uma economia de baixas emissões de carbono com metas baseadas na ciência. “Em última instância, pensamos que seria interessante adotar um “selo de excelência” para certificar as melhores práticas no HIDS”, pontuou Nichi. Ainda segundo ela, o exercício de construir uma metodologia para avaliação de sustentabilidade no HIDS pode ser uma ferramenta para auxiliar os tomadores de decisão a compreenderem como o conceito de sustentabilidade pode ser aplicado e escalado. “A avaliação de sustentabilidade deve ser um parâmetro para aferir o grau de comprometimento dos parceiros com os princípios do HIDS”, complementou.

Próximos passos – Durante o segundo semestre de 2020 e início de 2021, por meio de parceria com o Instituto de Computação da Unicamp, foram feitos os primeiros testes da metodologia de avaliação de sustentabilidade em uma plataforma online, ferramenta que poderia facilitar o acesso, a aplicação e a consolidação dos dados. Criar e disponibilizar essa plataforma é um dos próximos passos da componente de avaliação de sustentabilidade, cuja coordenação passa para a chefe da Embrapa Meio Ambiente, Ana Paula Packer. Para ela, para levar adiante os trabalhos da componente, será fundamental estabelecer parcerias com empresas tanto para desenvolver a plataforma online, como para realizar mais testes da metodologia. “Por sua vez, para isso, será fundamental, avançar na criação de uma personalidade jurídica para o HIDS, acrescentou Claudio Franzolin, professor da Faculdade de Direito da PUC-Campinas, que já atuava na componente do modelo jurídico e que agora assume a vice coordenação da componente de avaliação de sustentabilidade. Embrapa e PUC-Campinas compõem o Conselho Fundador do HIDS.

Por Patricia Mariuzzo

Na foto do topo: Marcelo Cunha, Ana Paula Packer, Claudio Franzolin e Jaqueline Nichi